Combate ao trabalho infantil é centro de discussão entre especialistas
Nessa quarta-feira (21), a sede do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco, no Recife, recebeu mais uma edição do MPT Debate. Desta vez, a roda de conversa teve como tema central o trabalho infantil, em consonância com as campanhas desenvolvidas no mês de junho contra a prática.
Cerca de 30 pessoas compuseram o público, marcado por procuradores, estagiários da instituição, estudantes, representantes sindicais e indivíduos envolvidos na luta contra o trabalho infantil.
Debate
A procuradora do Trabalho Jailda Pinto, que também foi coordenadora do evento, ressaltou os fatores que explicam e legitimam o trabalho infantil na nossa sociedade. “A desigualdade social atua de forma determinante no trabalho infantil. Nesses casos, a prática acaba sendo vista como algo natural e até mesmo positiva”, afirmou. A procuradora tratou de desmontar o mito de que o trabalho infantil traz valores à criança, senso comum que naturaliza a exploração dessas crianças e reforça a situação de pobreza.
A interdependência do trabalho infantil com outras formas de exploração foi lembrada. Segundo a procuradora, cerca 75% das pessoas resgatadas em trabalho escravo foram vítimas de trabalho infantil.
Na sequência, Humberto Mirando destacou a importância da história para a compreensão e combate ao trabalho infantil. “A História é importante para que possamos aprender a partir da crítica da memória e, então, pudemos criar outras possibilidades”, comentou. O professor exemplificou isso salientando que ao longo das décadas, o Brasil viu no trabalho uma forma ressocialização dos jovens, algo que só foi mudado juridicamente com o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), em 1990. Mas, segundo ele, a mentalidade ainda permanece.
“Dentro de uma lógica burguesa, criou-se uma pedagogia do trabalho que entendia a atividade laboral como solução para a juventude marginalizada. Isso foi institucionalizado em Escolas do Trabalho, que foram alternativas que o Estado encontrou para disciplinar os jovens que representavam perigo a sociedade”, explicou.
A última expositora, a psicóloga Cintia Sarinho, se concentrou na valorização, garantia e proteção da infância e na implementação dos direitos expostos no ECA. “Esse período que a criança deveria estar vivenciando os momentos compatíveis com seu desenvolvimento, ela está sujeita a situações que impedem que o mesmo seja pleno”, afirmou. Cintia Machado esmiuçou os artigos do ECA e como o trabalho infantil impede que essas diretrizes sejam colocadas em prática.
Dados
Quatro em cada 10 crianças vivem em situação de pobreza. Tal situação de vulnerabilidade as expõe ao trabalho infantil. O Brasil tinha até 2016 a meta de erradicar as piores formas de trabalho infantil, mas ela não foi atingida. A mais recente PNAD do IBGE mostra que no Brasil há 2,672 milhões de crianças e adolescente em situação de trabalho entre 5 e 17 anos. Em Pernambuco, houve aumento nos números, cerca de 12%. Antes, eram 109.000. Atualmente, são 122 mil. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 85 milhões de crianças no mundo estão enquadradas nas piores formas. Esse número corresponde a 51% do total do trabalho infantil no mundo.
Campanha
O trabalho infantil é um tema que sempre provoca discussão, mas, no final, a verdade é uma só: criança não deve trabalhar. Além de se privar da alegria da infância, a criança que trabalha normalmente abandona a escola, comprometendo seu desenvolvimento intelectual, físico, psicológico e emocional. Por isso, o Ministério Público do Trabalho convida a todos a fazerem parte da campanha #ChegadeTrabalhoInfantil, esse movimento de conscientização, para dar um basta no trabalho infantil no país.
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