Evento discute desafios da mulher no mercado de trabalho

No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o Ministério Público do Trabalho (MPT) promoveu mais uma edição do projeto MPT Debate. Em pauta, o tema da discriminação da mulher no mercado de trabalho. Para tratar do assunto, a advogada Robeyoncé Lima e a cineasta Katia Mesel dividiram mesa com a procuradora do Trabalho Melícia Carvalho e trouxeram um pouco das suas vivências.

Antes disso, no entanto, a procuradora, que é titular da Coordenadoria de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), abriu o evento. Trouxe em sua fala o panorama do mercado de trabalho para as mulheres. Com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), revelou um cenário bastante desafiador.

 

Melícia trouxe dados atualizados sobre as diferenças entre homens e mulheres no mundo do trabalho
Melícia trouxe dados atualizados sobre as diferenças entre homens e mulheres no mundo do trabalho

 

 

“As mulheres continuam trabalhando mais horas por dia do que os homens, tanto no trabalho remunerado quanto no não remunerado. Nos países de alta e de baixa renda, em média, as mulheres realizam pelo menos duas vezes e meia mais trabalho doméstico não remunerado e trabalho relacionado a cuidados do que os homens”, apresentou. “A OIT afirmou que a paridade salarial entre mulheres e homens vai levar mais de 70 anos para ser alcançada. A nível global, a diferença diminuiu apenas 0,6% entre 1995 e 2015”, complementou.

Na sequência, Robeyoncé Lima, primeira advogada trans de Pernambuco, disse como via o Dia Internacional da Mulher, revelando as contradições e desafios de todos os dias. Ela falou sobre a dificuldade que é ser mulher, negra e transexual. “O Brasil é o país onde mais há assassinatos de travestis e transexuais no mundo. Sair de casa, viver, é sim um perigo muitas vezes. É verdade que a cidade do Recife é perigosa para todo mundo, mas é muito mais para as mulheres, para as mulheres negras e mais ainda para as mulheres trans”, afirmou.

Ela também falou como é para ela ser a primeira mulher trans a entrar nos quadros da advocacia pernambucana. “Ao mesmo tempo, é uma alegria, é uma etapa vencida, mas também é difícil, porque sei que sou a única e vejo muitas iguais a mim em situação de total desamparo. Muitas vezes sem suporte de saúde, sem emprego, sem passagem às vezes para ir ao médico ou a uma audiência”, disse. “A educação para a tolerância e aceitação do outro precisa existir e hoje é a nossa maior esperança, junto as políticas públicas de saúde e segurança”, acrescentou.

A outra convidada, a cineasta Katia Mesel trouxe nas suas palavras a trajetória de uma mulher fazendo cinema há 50 anos. Ela foi a primeira mulher pernambucana a embarcar neste mundo, tendo iniciado a 1968. Desde então já realizou mais de 300 documentários, nos mais variados formatos, mídias, categorias e gêneros. Um dos documentários, Sulanca, que teve um trecho apresentado no evento, traz fortemente a presença feminina na transformação econômica em Santa Cruz do Capibaribe, na década de 80 do século passado.

Katia, que foi a primeira cineasta brasileira a participar de um festival de cinema nacional, falou da importância do empoderamento feminino como forma de ocupar espaços e reverter os cenários não favoráveis. “Ir à luta, da forma que se pode, com as formas que se tem, é o caminho. Minha forma é fazer cinema, é documentar”, disse.

 

O evento foi prestigiado por membros e servidores do MPT, além do público externo
O evento foi prestigiado por membros e servidores do MPT, além do público externo

 

Coordigualdade

Por meio da Coordenadoria de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), o MPT atua no combate à exclusão social, à discriminação no trabalho, à violação à intimidade do trabalhador e às práticas abusivas, dentre as quais, as relacionadas ao assédio moral e sexual. A coordenadoria atua estrategicamente em denúncias coletivas, visando corrigir as ilegalidades, bem como implementar ações afirmativas. Ainda, a pasta articula ações de fomento às políticas públicas por meio da troca de experiências e discussões sobre o tema.

De acordo com a procuradora do Trabalho Melícia Carvalho, o panorama atual da mulher no mercado ainda é muito pessimista. "Elas ocupam menos postos de emprego, ganham menos, quase não são vistas em cargos de comando, além de sofrerem discriminação e serem as principais vítimas dos assédios moral e sexual. É importante, pois, debatermos o tema, para abordarmos não só os problemas, mas também trazermos soluções e experiências inspiradoras" afirma.

Tags: coordigualdade, MPT Debate , Direito da Mulher