Roda de debate discute temas como desigualdade salarial e discriminação
Na última quarta-feira (29), a sede do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco foi palco de debate e reflexão sobre a luta das mulheres por oportunidades iguais no mundo do trabalho. A roda de debate “O que ainda falta para conquistarmos a igualdade entre mulheres e homens no mercado de trabalho?”, promovida pela Coordenadoria de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (COORDIGUALDADE), discutiu temas como etarismo, discriminação racial, licença parental, diferença salarial e presença das mulheres em cargos de liderança. O evento marcou o encerramento do mês da mulher.
A procuradora do trabalho e coordenadora nacional e regional da Coordigualdade, Melícia Carvalho Mesel, coordenou o evento, que contou com a participação da secretária da Mulher de Pernambuco, Regina Célia Almeida; da procuradora Regional do Trabalho Elizabeth Veiga e da cineasta Kátia Mesel, diretora do curta-metragem “PARTO SIM”, que foi exibido na ocasião.
Em sua fala de abertura , a coordenadora da Coordigualdade, Melícia Carvalho Mesel, destacou dados alarmantes sobre a situação das mulheres no mercado de trabalho. “Neste mês de março, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou um relatório demonstrando que nas últimas duas décadas não avançamos quase nada. Não apenas no Brasil, mas no mundo. Por sua vez, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), referente ao terceiro trimestre de 2022, mostra que as mulheres continuam recebendo em média 21% menos que os homens, mesmo nas áreas em que elas são maioria, e isso nada tem a ver com falta de qualificação ou de formação acadêmica, porque, segundo dados do IBGE, as mulheres possuem nível de instrução superior ao dos homens. O que justifica, então, essa desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho é, ainda, o preconceito e a discriminação que sofrem, sobretudo as mulheres negras, que possuem filhos ou pessoas que demandem seus cuidados, com deficiência, trans e aquelas com mais idade", destacou a procuradora do Trabalho, dentre outras informações.
Na ocasião, aconteceu, ainda, a exibição do curta-metragem “PARTO SIM”, da cineasta Kátia Mesel, que contou o que a motivou a realizar o filme e como foi a produção da obra. “Nesse filme abordo as dificuldades das mulheres de Fernando de Noronha, que precisam sair da Ilha, e deixar suas famílias, suas casas e seus trabalhos, por não poderem parir lá. Para produzi-lo, enfrentei muita resistência, não consegui financiamento pelo Estado, não pude gravar na própria Ilha, pois a administração da época não me permitiu, entre outras dificuldades”. Assim como Katia, as demais convidadas falaram da construção de suas carreiras, contaram situações de discriminação que viveram e discutiram aspectos relacionados à desigualdade de gênero.
A procuradora Regional do Trabalho Elizabeth Veiga relatou casos de discriminação que sofreu durante seus mais de 50 anos de vida profissional, sobretudo quando ainda trabalhava como advogada, antes de assumir como procuradora do Trabalho no MPT. “Qual de nós nunca teve uma ideia apropriada indevidamente? Qual de nós não teve a palavra interrompida? E quando fez algo para se fazer ouvir, quando foi assertiva, foi taxada de agressiva?”, questionou Elizabeth Veiga.
Por fim, a secretária Regina Célia, destacou a própria experiência pessoal como mulher preta para falar sobre as barreiras e preconceitos enfrentados pelas mulheres. “Ouvindo-as, fui lembrando um pouco da minha infância e da minha realidade de vida. Eu até quis dar de ombros em algumas situações, mas a sociedade me lembrava sempre que eu era preta, então não podia esquecer do racismo que estava ali presente. A sociedade também me lembrava sempre que eu era nordestina”. Ela falou, ainda, das influências da família no seu desenvolvimento pessoal e profissional e de temas como ancestralidade.
Além das procuradoras Melícia Carvalho Mesel e Elizabeth Veiga, e das convidadas Katia Mesel e Regina Célia Almeida, estiveram presentes no evento a procuradora-chefe do MPT em Pernambuco, Ana Carolina Ribemboim, que deu as boas-vindas, o vice-procurador-chefe do MPT em Pernambuco, Rogério Sitônio e a juíza do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Clara Calado, que participaram do debate, trazendo relatos sobre situações de desigualdade e discriminação. O evento teve, ainda, a participação de servidoras(es), estagiárias(os), aprendizes, terceirizadas(os), além de representantes da sociedade civil, em um auditório lotado e entusiasmado com o debate, que iniciou pela manhã e se estendeu pelo início da tarde.