Artigo | MARço das MARias: reflexões que vão além deste mês

No artigo MARço das MARias: reflexões que vão além deste mês, a procuradora do MPT em Pernambuco Melícia Carvalho Mesel, titular local da Coordigualdade, fala sobre os desafios da mulher no mercado de trabalho

MARço das MARias: reflexões que vão além deste mês


Estamos no mês de MARço, mês de MARielle, mês de MARia Alice, mês de todas as MARias, célebres ou anônimas, que viveram, e ainda vivem, em cada uma de nós, mas que tiveram as suas vidas ceifadas por uma violência que só cresce e embrutece a cada dia, colocando o Brasil, pasmem, no 5º lugar dos países mais violentos para as mulheres, perdendo apenas para Rússia, Guatemala, Colômbia e El Salvador.


A violência contra a mulher, contudo, não é só aquela que lhe subtrai a vida. É também aquela que lhe retira a dignidade, a estima, o espaço na sociedade, o trabalho, os sonhos, enfim, é tudo aquilo que lhe anula ou lhe torna menor. Aliás, é no trabalho, onde, presume-se, seja um espaço para inclusão social e realização pessoal, que a mulher mais sofre violência. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelam que mais da metade das mulheres já sofreram ou ainda sofrem assédio moral e assédio sexual no ambiente laboral. E sabem por quê? Porque o espaço hoje ocupado por elas foi forjado com muita luta. Não nos esqueçamos de que, até bem pouco tempo, a mulher era tratada como objeto, como propriedade do homem, como um ser que devia servir a ele e à prole.


Orientados, pois, por uma cultura machista, os homens se viram confusos e, por vezes, inconformados com esse novo papel reivindicado pela mulher, e, sentindo-se ameaçados nos seus postos de trabalho, de forma inconsciente ou mesmo deliberada, passaram a se utilizar de tais violências como forma de manter o controle. Vale registrar que o assédio moral e o assédio sexual, além de causarem sofrimento físico e psíquico, podendo até levarem ao suicídio, são condutas que interferem diretamente na igualdade, na medida que a cada 10 mulheres que são vítimas de tais violências, 1 abandona o seu posto de trabalho.


Isto só agrava o seguinte quadro: as mulheres ainda estão em menor número no mercado laboral, com exceção da Administração Pública, cujo critério para ingresso é o concurso público, o que demonstra, pois, que não se está falando de falta de preparo ou de habilidades; as mulheres ganham cerca de 80% menos do que os homens, mesmo exercendo a mesma função; e quando se pensa em cargos de comando, aí é que a situação é discrepante. A título ilustrativo, anote-se que, no âmbito governamental, dos 79 presidentes de empresas estatais, apenas 4 (ou seja, 5%) são mulheres.
Já no âmbito privado, esse percentual sobe para 16%, contudo, as mulheres ainda são encontradas, em sua maioria, nas áreas de serviços (especialmente os domésticos) e no setor de vendas a varejo (notadamente de cosméticos), sendo, por outro lado, pouco encontradas nas áreas tidas como “masculinas” (engenharia, computação, matemática etc), nas quais ainda relatam sofrerem muito preconceito.


E nestas poucas linhas o que eu poderia lhes dizer? Que nós, mulheres, devemos nos unir e sermos solidárias. É a tão decantada sororidade. Que não calemos a nossa voz, que persigamos nossos sonhos e que não desistamos de transformar o mundo, começando, todavia, pelo nosso lar, educando nossos filhos a partir de valores como a igualdade, o respeito, a não-discriminação, porque nada somos senão a soma das nossas vivências.

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